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Ressuscitando um antigo 286 (Parte 3 – Instalando o MS-DOS 6.22)

Amigos, prosseguindo com a saga do nosso querido 80286, neste post colocarei as minhas experiências com a instalação do sistema operacional principal. Para quem não tenha acompanhado este série, na Parte 1 eu mostrei os componentes necessários para a experiência e na segunda parte abordei a montagem dos mesmos. Recomendo a leitura das partes na ordem correta para uma melhor compreensão do presente texto. Então vamos lá!

Uma baixa importante

Antes de começarmos, infelizmente devo reportar um problema que o sistema apresentou. Depois que finalizei a montagem do 286, percebi que em algumas situações ele congelava, principalmente após o POST (POST é um acrônimo de Power On Self Test, ou seja, é um teste que o próprio equipamento faz nos seus componentes básicos ao ser ligado). Como se trata de um equipamento bastante antigo e sem muita documentação disponível, tive que ir testando os componentes no método da tentativa-e-erro, e acabei por descobrir que dois chips DIP de memória estavam com problemas. Uma vez removidos o 286 ficava completamente estável, porém com menos memória: dos 1 MB originais, apenas 512 KB ficaram disponíveis para utilização. Tal ocorrência é perfeitamente normal em equipamentos antigos que permanecem por muito tempo sem serem ligados, mas mesmo com metade da RAM disponível o 286 continuou firme e forte!

Exemplo de chips de memória no formato DIP


Definição do sistema operacional

Como o 80286 é um processador de 16 bits que praticamente opera apenas no modo real, optei pelo sistema operacional MS-DOS 6.22 em conjunto com o ambiente gráfico Windows 3.0 - eu tinha a intenção de colocar o Windows 3.1 mas ele requer 2 MB de memória, enquanto que o meu 286 conta apenas 512 KB disponíveis. Como curiosidade, seguem os requisitos de sistema:

MS-DOS 6.22
  • Processador 8086/8088 ou superior;
  • 512 KB de RAM;
  • 5 MB de espaço livre no disco rígido;
  • Drive de disquete de 3 1/2" ou de 5 1/4";
  • Placa de vídeo e monitor monocromáticos, CGA, EGA/VGA ou superior.

Windows 3.0
  • Processador 8086/8088 ou superior;
  • 384 KB de RAM;
  • 7 MB de espaço livre no disco rígido;
  • Drive de disquete de 3 1/2" ou de 5 1/4";
  • Placa de vídeo e monitor compatíveis com os modos CGA, EGA/VGA, Hercules ou superior;
  • MS-DOS 3.1 ou superior.
Modo Real X Modo Protegido

Talvez alguns de vocês possam estar se perguntando: que diabos é o tal do modo real? Deixo uma explicação sucinta: desde o 80286, todos os processadores Intel e compatíveis possuem dois modos de operação: real e protegido. No modo real, o processador se comporta exatamente como os processadores 8086 e 8088 (o 8088 foi o processador do primeiro PC), com o mesmo conjunto de instruções e acesso à mesma quantidade máxima de RAM, apenas 1 MB. No modo protegido o processador passa a contar com um maior conjunto de instruções e recursos avançados, além de acesso a uma maior quantidade de RAM conforme o seu projeto, que no caso do 286 é de no máximo 16 MB. Desta forma, se estiver rodando no modo real mesmo um moderníssimo Core i7 se comporta igual ao processador do primeiro PC... por isto que atualmente todos os sistemas operacionais rodam no modo protegido.

O MS-DOS é um exemplo de sistema operacional que roda apenas no modo real, assim como o Windows 1.0 e 2.0. A versão 3.0 pode rodar nos dois modos, enquanto que a partir da versão 3.1 o Windows roda apenas no modo protegido. Todo processador quando ligado opera no modo real, e o chaveamento entre o modo real e o protegido (e vice-versa) é feito por uma instrução específica do processador que é ativada pelo sistema operacional. Uma vez no modo protegido o processador se torna incompatível com softwares que rodam no modo real. 

O 80286 possui um erro de projeto: ele possui apenas a instrução para passar ao modo protegido, sem uma instrução para voltar ao modo real. Estando no modo protegido o 286 só volta ao modo real quando desligado ou reiniciado e, como vimos, o modo protegido é incompatível com os softwares de modo real como o MS-DOS. Uma vez que o DOS era o sistema operacional mais popular da época, foi este o motivo do modo protegido do 286 quase não ter sido utilizado. A Intel corrigiu este "pequeno problema" a partir do 80386.

Ufa, passada a explicação técnica, podemos voltar à diversão!

Instalação do MS-DOS

O programa de instalação do MS-DOS é ativado efetuando-se a inicialização do sistema a partir do primeiro disquete de instalação. No total são três disquetes de 1,44 MB.

Tela inicial do programa de instalação do MS-DOS 6.22

O instalador então solicita algumas configurações básicas

Selecione a pasta para a instalação do sistema. É recomendável manter o padrão C:\DOS

Definidas as configurações básicas, o instalador começará a cópia dos arquivos presentes nos disquetes que compõem a instalação. Após o término, o sistema operacional estará instalado com sucesso!

Progresso da cópia dos arquivos

Aos mais novos: sim, tínhamos que trocar manualmente os disquetes de instalação!

Oba! A instalação foi concluída!

Após reiniciarmos o equipamento, já podemos matar a saudade dos comandos clássicos do MS-DOS como DIR, COPY, CLS...

O clássico comando DIR/P: mostra uma listagem dos arquivos por página

E assim chegamos ao final de mais uma parte a respeito do nosso guerreiro 286! Para o post não ficar ainda mais extenso, decidi deixar a instalação do Windows e a descrição da minha experiência de utilização do equipamento para uma próxima parte. Até lá!

Próximo:

Comentários

  1. Em teoria, era possível executar software em modo protegido no 286, mas para isso o programador teria que copiar todas as instruções do modo real que precisasse para dentro do programa, inclusive as requisições para BIOS e periféricos. Não lembro de algum corajoso ou maluco ter feito isso :-p. Talvez se não fosse esse defeito do 286, muita gente ainda teria optado por upgrades em máquinas equipadas com ele, para poder rodar o Windows 3.1.

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    1. Exatamente. Em função disto os programadores teriam que desenvolver praticamente um sistema operacional inteiro para utilizarem o modo protegido do 286, visto que o DOS roda no modo real. Simplesmente não valia a pena.

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  2. Dá até nostalgia em ver essas telas.

    Pode me refrescar a memória? Eu achava que os computadores baseados no IBM PC só funcionavam com o mínimo de 640 kB, a chamada memória convencional. Estou tentando lembrar se já vi PC XT ou 286 rodando com menos de 640 kB. Outra curiosidade como são tratados/usados os 640 kB de memória convencional e os 384 kB da memória expandida nos PCs e sistemas operacionais modernos.

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    1. É perfeitamente possível um PC rodar com menos de 640 KB de RAM. O 286 desta postagem, por exemplo, conta com apenas 512 KB de RAM.

      Quanto à gestão de RAM dos processadores modernos, este link pode ajudar: http://wiki.osdev.org/Memory_Map_(x86)

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