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O Black Sabbath da fase Dio

No início da década de 1980 o grande Black Sabbath renasceu com o exímio vocalista Ronnie James Dio. Confira aqui este período peculiar da história da banda.


Em meados da década de 1970 as rusgas entre Ozzy Osbourne e Tony Iommi eram cada vez mais evidentes. O guitarrista andava cansado do estilo porra louca de Ozzy, que por sua vez não gostava do jeito centralizador de Tony. Esta divisão interna já começava a afetar a banda, e o disco Technical Ecstasy de 1976 mostrava bem isso: apesar de não ser um trabalho de todo ruim, estava longe do que o poderoso Sabbath poderia apresentar.

Em 1977 Ozzy decidiu sair do Sabbath, que para o seu lugar chamou o vocalista do Fleetwood Mac, Dave Walker. Porém não deu muito certo e os demais membros da banda convenceram Tony a chamar Ozzy de volta para gravarem o disco Never Say Die em 1978, que é bem melhor do que o anterior, porém ainda é um disco irregular que mostra a enorme instabilidade da banda.

Tony acabou perdendo a paciência definitivamente com Ozzy, que estava cada vez mais afundado nas drogas, e decidiu demitir o ex-amigo (coube ao batera Bill Ward entregar a “carta de demissão”). Conforme as palavras do guitarrista:


“Claro que todos nós usávamos drogas. O problema é que Ozzy sempre ia além e não tinha limites, e eu não aguentava mais conviver com isso”


Assim a banda decidiu procurar outra voz e em 1979 contratou o lendário vocalista americano Ronnie James Dio, que havia feito trabalhos marcantes no ELF (a sua primeira banda profissional) e no Rainbow, o grupo solo do ex-guitarrista do Deep Purple, Ritchie Blackmore. O estilo de Dio combinou perfeitamente com o Sabbath que no ano seguinte voltou com tudo, lançando o disco Heaven And Hell.

Heaven And Hell (1980)

Este é um trabalho irretocável, de incrível bom gosto e perfeito do início ao fim, ouso dizer que é o melhor disco da banda desde o Sabbath Bloody Sabbath de 1973. Não há como destacar uma faixa ou outra, pois todas são obras-primas da música pesada e mostram um Sabbath afiado e coeso como há muito tempo não se via, além de um vocal poderoso, técnico e marcante – é inegável que tecnicamente Dio estava a anos-luz na frente de Ozzy.

Da esquerda para a direita: Geezer Butler, Tony Iommi, Ronnie James Dio e Bill Ward



Em suma, o Heaven And Hell marcou o renascimento do Sabbath, que voltou ao topo do mercado musical em grandíssimo estilo - Dio trouxe uma vitalidade que há muito tempo a banda havia perdido. Tenho este disco desde 1995 e não me canso de ouvir.


Mob Rules (1981)

Depois da bem-sucedida turnê do álbum Heaven And Hell o Sabbath sofreu a baixa do batera Bill Ward, cujo corpo já começava a cobrar a conta dos anos de abusos com drogas e bebedeiras. Para o seu lugar Dio sugeriu o amigo Vinnie Appice, que foi logo contratado pela banda.

Vinnie Appice é o segundo da esquerda para a direita

O novo batera segurou muito bem a onda e essa formação gravou o disco Mob Rules, que também é um disco muito bom, porém não está no mesmo nível do anterior – realmente seria difícil igualar a perfeição. Há músicas bem legais, como a Voodoo, The Sign Of The Southern Cross (uma obra-prima), a faixa título e a Falling Off The Edge Of The World.


Embora não tão bom quanto o trabalho anterior, o disco Mob Rules manteve a banda relevante e no topo. Mas o melhor foi que alguns shows da turnê foram gravados e dariam origem ao primeiro álbum ao vivo oficial da banda, bastante aguardado pelos fãs.


Live Evil (1982)

Desde a década de 1970, ainda com Ozzy nos vocais, o Sabbath sempre era cobrado sobre quando finalmente lançaria o seu disco ao vivo. O Live Evil foi uma grande resposta a esta cobrança e captura toda a energia da formação com Dio nos vocais, que manda muito bem mesmo nas músicas da fase Ozzy (em várias acho que ele canta até melhor).


O Live Evil é um disco ao vivo gostoso de ouvir, sem dúvida, muito embora a sua produção tenha algumas falhas. Durante a mixagem do álbum o caldo engrossou entre Dio e Tony, pois cada um queria puxar a sardinha para o seu lado, conforme uma declaração do responsável do estúdio que produzia o disco:


“De manhã Dio chegava e pedia para a voz ter mais destaque no áudio. À noite era Tony que aparecia e pedia para a guitarra ficar mais alta, eu estava quase ficando louco!”


Como em qualquer empresa a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, Dio acabou saindo do Sabbath e levou consigo o batera Vinnie Appice, iniciando uma carreira solo de muito prestígio. Logicamente que a mixagem com a guitarra destacada prevaleceu, o que é facilmente perceptível ao ouvir o álbum.

Esta versão da clássica música Black Sabbath é a minha favorita, de todas as formações da banda que já a interpretaram:


Após a saída de Dio o Sabbath entrou em uma fase errática e de grande instabilidade. Lançou discos muito bons com Ian Gillan e Glenn Hughes, porém foram brilhos de curta duração e na maior parte dos anos 1980 houve um entra e sai de músicos mais ou menos conhecidos, tais como os vocalistas Ray Gillen e Tony Martin, o baixista Bobby Rondinelli e o lendário batera Cozy Powell.

Dehumanizer (1992)

Depois do Sabbath lançar alguns discos de pouca repercussão com o virtualmente desconhecido vocalista Tony Martin no final da década de 1980, no início da década seguinte Dio e Tony Iommi resolveram deixar as rusgas de lado e voltaram com tudo. Juntamente com o baixista Geezer Butler e o batera Vinnie Appice gravaram o pesadíssimo disco Dehumanizer.

O Black Sabbath em 1992

O Dehumanizer marca uma sonoridade distinta em relação aos outros trabalhos desta formação, com um som mais seco e direto, além de muito peso. Há grandes porradas sonoras tais como as faixas Computer God, Master Of Insanity, Time Machine e a Sins Of The Father. Não é um disco perfeito, mas foi bom o bastante para recolocar o Sabbath nos holofotes em grande estilo depois de anos tortuosos.



Porém a segunda passagem de Dio pelo Sabbath não durou muito. Nesta mesma época Ozzy dizia que iria se aposentar e realizava a turnê No More Tours (do muito bom disco No More Tears), e chamou o Sabbath para participar de alguns shows desta turnê como uma forma de despedida e reconciliação com os ex-colegas. Dio não topou e pulou fora. Para fazer os shows a banda contou com a ajuda do lendário vocalista Rob Halford do Judas Priest – Rob sempre foi um grande fã do Sabbath e socorreu a banda com muito prazer.

Dio retomou a sua carreira solo e se reuniria novamente com Tony Iommi e Geezer Butler apenas em 2007, no projeto Heaven And Hell (desta vez eles não puderam usar o nome Black Sabbath por questões comerciais). O disco gravado neste projeto, o The Devil You Know, é um ótimo trabalho e segue a mesma linha do Dehumanizer. Será assunto para uma futura postagem.

Infelizmente este foi o último disco gravado pelo mestre Dio, que faleceria em decorrência de um maldito câncer em 2010 aos 67 anos. Percebemos que o tempo passa e que envelhecemos quando os nossos ídolos deixam este mundo, que fica cada vez mais triste, chato e com uma enorme falta de talento e criatividade.

Formação do disco Heaven And Hell:

Ronnie James Dio – Vocais
Tony Iommi – Guitarra
Geezer Butler – Baixo
Bill Ward – Bateria

Formação dos discos Mob Rules, Live Evil e Dehumanizer:

Ronnie James Dio – Vocais
Tony Iommi – Guitarra
Geezer Butler – Baixo
Vinnie Appice – Bateria

Comentários

  1. Cara... discos muito bons. No Technical Ecstasy, Backsteet Kids, You won't change, It's alright e Dirty Woman salvam o disco.
    No Never Say Die, as músicas boas são a faixa título, Jhonny Blade, Junior's Eyes e o começo e Air Dance.

    Quanto aos discos da fase Dio, Heaven and Hell realmente é o melhor deles e, para mim rivaliza com Master of Reality e Paranoid o posto de melhor disco do Sabbath. Mob Rules é ótimo: Turn of the night, Sign of Southern Cross, Country Girl, Falling of the Edge of the World (musicãooo) e o encerramento melancólico de Over and Over (que pra mim é a melhor do disco). Voodoo e Slipping away eu acho chatinhas.

    O Dehumanizer é bom, Computer God, TV crimes, Master of Insanity, I e Buried Alive são pauladas de primeira linha e After All é aquele doomzão.

    E quanto ao Devil You Know (pq aquilo foi Black Sabbath com outro nome): Baita disco. Atom and Evil é doomzão, Bible Black e Breaking into heaven são destaques para mim.

    Eu cheguei a ouvir todos os discos, incluindo os fase Tony Martin. Cross Purposes (Melhores músicas: I witness, Cross of Thorns, Immaculate Deception, Dying for Love, Back to Eden, The hand that rocks the cradle) e Headless Cross (melhores músicas: Headless cross, When death Calls, Kill in the spirit World, Nightwing) são os melhores. O pior disco da era Martin é também o pior do Black Sabbath como um todo: Forbidden (melhores músicas: Rusty angels, Forbidden e principalmente, Kiss of death).

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    Respostas
    1. Show! Assim que possível voltarei a escrever sobre música. 😀

      Da fase Martin, o The Eternal Idol é muito legal também! The Shining, Ancient Warrior, Hard Life To Love são ótimas faixas.

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    2. The Eternal Idol é um bom disco, mas prefiro a versão com o Ray Gillen... os vocais dele são melhores que os do Martin. As melhores músicas são The Shining, Ancient Warrior, Nightmare e a faixa título... Também ouvi o TYR (Anno mundi é a melhor já de cara, Jerusalem e Sabbath Stones são ótimas)... Cozy Powell destrói na bateria tanto no Headless Cross como no TYR.

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