Novamente José Padilha toca na maior ferida brasileira, a corrupção. Depois dos icônicos filmes Tropa de Elite, o diretor retorna ao tema e mais uma vez inspira muitas reflexões.
José Padilha realmente é um homem perseverante. No primeiro Tropa de Elite ele abordou a corrupção na polícia e o submundo do tráfico de drogas, enquanto que no segundo filme também foi colocado em pauta as milícias que assolam as comunidades carentes país afora, cujo final pode até mesmo ser considerado como um gancho para o seu mais novo trabalho, a série O Mecanismo.
Com algumas pequenas inexatidões e licenças poéticas das quais falarei adiante, a série aborda o coração de todo o “sistema” (como é referenciado nos Tropa) ou ainda o “mecanismo”. A primeira temporada foca-se na atuação da Polícia Federativa, que marcou o início da operação Lava Jato e que levou à prisão do doleiro Roberto Ibrahim (interpretado por Enrique Diaz) e do diretor da PetroBrasil, João Pedro Rangel (Leonardo Medeiros).
Espere um pouco. Polícia Federativa? Roberto Ibrahim? PetroBrasil? Sim, de modo a livrar-se de uma obrigação histórica que deixaria a série mais com cara de documentário, José Padilha tomou a acertada decisão (a meu ver) de não utilizar nenhum nome verdadeiro. Assim, ficou mais solto para desenvolver a trama.
Sem falar que algumas referências são hilárias: a Galvão Engenharia tornou-se a Bueno Engenharia, o doleiro Alberto Youssef é o Roberto Ibrahim e a ex-presidente Dilma Rousseff é a Janete Ruscov (interpretada por Sura Berditchevsky), apenas para citar alguns exemplos (o Google é seu amigo). Um nome fictício que eu particularmente curti é do Juiz Federal Sérgio Moro, que é Paulo Rigo (Otto Jr.) na série.
A narrativa é compartilhada entre os policiais “federativos” Marco Ruffo (Selton Mello) e Verena Cardoni (Caroline Abras), e aborda a gênese da operação Lava Jato e todos os hercúleos obstáculos que devem ser transpostos para se fazer justiça no Brasil – o “mecanismo” sempre encontra uma forma de proteger os seus, principalmente aqueles dos mais altos escalões.
Mesmo com as licenças poéticas, nada do que é mostrado pode ser considerado um absurdo, como os acontecimentos incessantemente nos mostram. Assim como fez nos filmes Tropa, Padilha nos convida a muitas reflexões: até quando acharemos que a corrupção seja aceitável, ou mesmo normal? Até quando que o “rouba mas faz” será um atenuante para um político? E a principal: será a classe política um reflexo da sociedade?
Enfim, recomendo a todos que assistam a série. Por poucas horas (cada episódio tem cerca de quarenta minutos, sendo que a primeira temporada tem oito episódios) dispa-se de cores partidárias e de qualquer ranço ideológico, se houverem. Vale muito a pena.
Esse eu quero assistir!
ResponderExcluirFico imaginando o que não se sabe e talves nunca venhamos a saber sobre o que existe nas entranhas dessa enorme trama de corrupção Brasileira e inclusive suas ligações com outros paises da America Latina, os países comunistas, onde existe um mecanismo de perpetuação no poder em troca de esmola a uma população que perdeu o discernimento de certo e errado, um moto continuo de poder sobre a ignorancia.
Sem dúvida há muita sujeira que jamais virá à tona.
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