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Parem o mundo que eu quero descer

A notícia não é nova, mas decidi refletir um pouco antes de dar os meus pitacos sobre o banimento dos carros a combustão zero quilômetro a partir de 2030 na Alemanha - a partir de 2050 não poderão sequer rodar pelo país - decisão esta com certeza bastante motivada pelo escândalo dos carros da Volkswagen que mascaravam os testes de emissões. E o que isto significa? Significa um mundo cada vez mais sem graça, politicamente correto e o pior, apenas transfere o problema em questão para a outra ponta. Se realmente atenuasse a poluição mundial eu até apoiaria.

Afinal de contas, todos sabem que gerar energia elétrica não é algo exatamente limpo, como bem ilustram as usinas termoelétricas e nucleares. Mesmo as hidroelétricas, que são consideradas “limpas”, causam um tremendo impacto ambiental na região dos alagamentos para a formação das represas. Até 2003 morei em uma cidade que fica a 120 km do lago de Itaipu, e digo que o impacto no clima, temperatura média e no meio-ambiente da região em geral são bastante perceptíveis, sem falar que as Sete Quedas foram barbaramente sacrificadas para o funcionamento da usina de Itaipu. E no caso das usinas nucleares, merdas sempre podem acontecer: Chernobyl e Fukushima mandam lembranças.

Mas falemos agora da tecnologia em si: a produção de baterias é um processo altamente poluente, e ainda temos que lidar com o problema do correto descarte e reciclagem das mesmas, algo que nem mesmo os países ditos desenvolvidos dominam completamente. E também aqui merdas sempre podem acontecer: o Galaxy Note 7 explosivo manda lembranças.

Espero que nenhum “gênio de Brasília” compre a precipitada iniciativa alemã como se houvesse descoberto a roda. Temos a faca e o queijo na mão: carros rodando no etanol com catalisador geram uma poluição mínima, e caso descartemos a grande gambiarra que é a tecnologia flex seria melhor ainda, visto que motores totalmente otimizados para queimar etanol renderiam mais e poluiriam ainda menos: um dos motivos para isto seria a adoção de uma taxa de compressão mais elevada, o que é possível pela maior resistência à detonação do etanol frente à gasolina. Mesmo motores a gasolina modernos, que contam com catalisador, quando bem regulados poluem muito menos do que modelos de dez anos atrás.

E pensar que falta tão pouco para que o Proálcool deixe de ser uma utopia: basta uma regulação efetiva por parte do governo, que coíba a formação de cartéis, garanta a competitividade, crie estoques reguladores para a entressafra da produção e proíba as queimadas da palha da cana-de-açúcar, o único impacto ambiental causado por esta cultura. You may say, I'm a dreamer, but I'm not the only one.

Enfim, nos resta torcer para que a Alemanha, país que muito admiro, se conscientize da precipitação da sua decisão e volte atrás. E no pior cenário, caso esta tendência se espalhe mundo afora, resta-me o consolo de que em 2050 (se ainda estiver vivo) contarei 71 primaveras e provavelmente estarei dirigindo muito menos, logo o desgosto de conduzir somente “carros de brinquedo” será reduzido. Mas realmente sinto pela minha filha e pelos meus futuros netos.

Este será o único tipo de carro permitido na Alemanha em 2050...

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Comentários

  1. Meu tio tem uma fábrica de baterias e disse que não polui.
    - Laura Pacheco

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