Recentemente a Apple anunciou o final do casamento com a Intel para apostar em CPUs ARM próprias nos Macs. Nesta postagem faço um revisionismo histórico de todas as mudanças de arquitetura que os computadores pessoais da maçã já tiveram.
| Steve Jobs e o primeiro Mac de 1984, com o processador Motorola 68000 |
Como todos devem saber, o primeiro Macintosh anunciado pelo saudoso tio Jobs em 1984 contava com a CPU Motorola 68000, um chip CISC híbrido de 32 e 16 bits, e todos os Macs lançados até meados da década seguinte eram baseados em chips derivados do 68000, que traziam uma arquitetura conhecida como m68K.
No início dos anos 1990, a Apple, IBM e Motorola fizeram um acordo de colaboração industrial que ficou conhecido como AIM (as iniciais de cada empresa), e em função deste acordo a Apple obteve acesso aos processadores IBM PowerPC RISC a um custo extremamente baixo. Juntando isto ao fato de que os chips Motorola 68K já mostravam muitas limitações, a companhia da maçã decidiu promover a primeira troca de arquitetura dos Macs, saindo da m68k para a PPC – o último Mac OS compatível com processadores m68k foi o 8.1 apresentado em 1998.
Lançados a partir de 1994, os novos Macs com processadores PPC foram renomeados para Power Macintosh e deram um novo fôlego ao produto, cujas vendas andavam em queda devido a três fatores principais: o já citado baixo rendimento dos chips m68k, o afastamento de Jobs da Apple e a popularização do Windows, que finalmente mostrou que podia ser levado a sério a partir da versão 3.0. O Mac OS também precisou ser reescrito, e a primeira versão com suporte ao PPC foi a System 7.1.2, sendo que a primeira feita exclusivamente para PPC, sem códigos de legado para m68k, foi a 8.5.
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| Power Macintosh 9500 com o chip PowerPC 601 |
Os Power Macs seguiram a sua trajetória até 2005, quando de forma surpreendente Jobs anunciou a migração para os processadores x86-64 fornecidos pela Intel, marcando a segunda mudança de arquitetura da plataforma. Esta nova mudança foi originada da insatisfação da empresa com o chip PowerPC G5, pelo seu grande consumo elétrico e dissipação térmica - isto fez com que o Power Mac G5 tivesse um caro sistema de resfriamento líquido, e os PowerBooks acabaram ficando limitados ao já defasado PPC G4, assim como o primeiro Mac Mini.
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| Power Mac G5, o último PPC |
No lado do sistema operacional, neste período de tempo aconteceu uma pequena revolução. A partir do Mac OS X 10.0 “Cheetah” lançado em 2001 o sistema foi completamente refeito, recebendo o kernel Unix (baseado no BSD) do NeXTSTEP, sistema operacional desenvolvido pela NeXT, empresa fundada por Jobs após ter sido expulso da Apple e que foi comprada pela própria Apple em 1997, mesmo ano em que ele foi reconduzido ao cargo de CEO da companhia que ajudou a fundar.
A primeira versão do OS X compatível com chips x86-64 foi a 10.4 “Tiger”, que também suportava os PPC. A última versão com suporte nativo aos PPC foi a 10.5 “Leopard”, enquanto que a primeira exclusiva para os x86-64 foi a 10.6 “Snow Leopard”. Esta versão conta com um emulador para aplicações PPC chamado de Rosetta, cujo suporte foi encerrado no Mac OS X 10.7 “Lion”. Desta forma, o último Mac OS capaz de rodar softwares PPC foi o 10.6.
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| Mac OS X 10.6 |
A adoção de processadores Intel aproximou bastante os Macs dos PCs tradicionais, tanto que tornou possível executar o Windows de forma nativa nos Macs com a ajuda do utilitário Boot Camp, incluído a partir do OS X 10.5 - até então o Windows somente podia ser executado em um Mac por emulação, com grande degradação de performance. Esta mudança de paradigma aumentou a popularidade dos Macs, pois encorajou muitos a experimentarem os computadores da maçã sem ter que abandonar os softwares exclusivos para Windows que porventura utilizassem.
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| Windows 10 instalado no meu finado MacBook 2009 |
O casamento com a Intel durou 15 anos, mais precisamente até a semana passada quando Tim Cook anunciou que os Macs vão trocar as CPUs Intel x86-64 por chips ARM fabricados pela própria, chamados de Apple Silicon. Isto marca a terceira mudança de arquitetura da plataforma Macintosh, e a empresa planeja terminá-la em 2022. Comenta-se que a insatisfação da Apple com a falta de inovação e com os muitos problemas de segurança dos processadores Intel foram os principais fatores que motivaram a mudança.
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| iMac com o processador Intel Core i5 |
Da mesma forma que ocorreu nas transições anteriores, o agora denominado macOS está sendo redesenhado e a primeira versão para chips ARM é o 11.0 “Big Sur”, que contará com suporte nativo a softwares desenvolvidos para o iOS pela arquitetura comum. A empresa da maçã fechou acordos com a Microsoft e a Adobe para o desenvolvimento de versões do Office e do Creative Cloud (Photoshop e Lightroom) nativas para ARM, e haverá também um emulador para rodar softwares x86-64 em Macs ARM, o Rosetta 2.
A Apple pode ser uma empresa com algumas práticas questionáveis, mas uma coisa é inegável: ela nunca se assustou com mudanças de paradigmas.
Finalmente, restam duas constatações:
- Os hackintoshes estão com os dias contados;
- Pense bem antes de comprar um Mac novo agora, pois o próprio histórico da Apple mostra que a empresa não mantém suporte a tecnologia de legado por muito tempo (vide a transição do PPC para x86-64). Mesmo nos EUA, onde os Macs custam infinitamente menos, há uma forte corrente chamada de Don´t Buy a Mac.








A Apple nem considerou a AMD?
ResponderExcluirPois é...
ExcluirTenho as minhas duvidas se um dia o MAC PRO ou coisa parecida irá utilizar processador com arquitetura AMR...
ResponderExcluirPior que eu acho que vai. Como o ecossistema do macOS é infinitamente menor do que o Windows, é muito mais fácil para migrar os principais softwares.
ExcluirE considerando softwares escritos nativamente para as respectivas arquiteturas, x86 e ARM ficam pau a pau em desempenho.
Esse artigo, (muito bacana!), me fez lembrar uma vez que fui na casa de um tecnico de informatica conhecido meu, e ele me mostrou um antigo Mac, não me lembro dos detalhes, mas em hardware era comparável ao 486 ou Pentium, alguns mega de memória, etc, e fiquei impressionado como o bichinho era rápido!!! As janelas abriam
ResponderExcluirInstantaneamente!
A Apple inovando novamente, embora longe do que fazia Jobs.
E os processadores Intel mostrando que não são mais vantajosos.
Provavelmente era um Power Mac.
ExcluirBoa notícia. Ajudará a desmamar da arquitetura x86 a indústria.
ResponderExcluirConcordo. Concorrência nunca é demais.
ExcluirEsse blog é bom demais. Pena eu não ter descoberto antes. Estou viciado! Parabéns!
ResponderExcluirValeu!
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