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Doze Flores Amarelas

Assisti ontem a estreia da ópera-rock idealizada e estrelada pelos Titãs, e gostaria de compartilhar com vocês as minhas impressões. Sim, o rock nacional não está morto!


Idealizada pelos três membros remanescentes da formação original do Titãs, Sérgio Britto, Tony Bellotto e Branco Mello, complementados pelo guitarrista e vocalista Beto Lee e pelo baterista Mario Fabre, Doze Flores Amarelas é uma ópera-rock que conta através da música a história de três garotas chamadas Maria (interpretadas pelas cantoras Yas Werneck, Corina Sabba e Cyntia Mendes) que são violentadas em uma festa e buscam por vingança. A direção é do dramaturgo Hugo Possolo com colaboração do escritor Marcelo Rubens Paiva.

As canções narram esta busca, com a vingança sendo um pano de fundo para diversas críticas sociais e comportamentais. A começar pelo comportamento das moças que reflete bem grande parte da juventude de hoje, que querem curtir tudo sem limites como se não houvesse amanhã, passando pela tacanha justificativa dos estupradores (“elas davam mole, eram umas vadias, logo mereciam ser abusadas!”) que comumente e infelizmente acontece, o cúmulo dos absurdos do comportamento humano que nos rebaixa ao mesmo nível das piores bestas.

Não faltam críticas à falta de diálogo e cumplicidade entre pais e filhos, além da hipocrisia de muitos daqueles ditos religiosos: a canção sobre o pastor, pai de uma das Marias, ilustra bem isto. Outro destaque absoluto da peça é o aplicativo Facilitador, ao qual os jovens recorrem sobre praticamente tudo e que domina as suas ações. Qualquer semelhança com o Facebook não é mera coincidência.

Imagem: Folha de S.Paulo

O lado musical é irrepreensível. Os três membros originais dos Titãs estão em plena forma, os músicos Beto Lee e Mario Fabre são ótimos, com destaque para o baterista que tem uma técnica muito refinada, e as canções são capazes de transmitir com empatia e emoção os acontecimentos da trama. A principal fonte de inspiração é a atemporal ópera-rock Tommy, do The Who - quem conhece este clássico (já o ouvi na íntegra incontáveis vezes e nunca me canso...) consegue perceber claramente que os Titãs buscaram o mesmo feeling, o que ficou de muito bom gosto.

Vale muito a pena conferir esta bela surpresa do rock nacional, além da satisfação de ver ao vivo lendas como os três Titãs originais. Minha única ressalva é que a história poderia ser melhor desenvolvida, mas imagino que os idealizadores tiveram que fazer algumas concessões em função do tempo do espetáculo, que é de pouco mais de uma hora.

Enfim, deixe de gastar o seu dinheiro vendo incontáveis filmes de super-heróis importados e vá prestigiar o rock nacional. Você não se arrependerá.

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